Na decisão do juiz João Bosco Soares da Silva, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), que autorizou a Operação Suserano, que mirou um esquema na Estado de Agricultura Familiar (Seaf), consta a participação de cada um dos alvos, entre eles do ex-secretário Luluca Ribeiro. O grupo se envolveu na negociação de kits de ferramentas que teve sobrepreço de mais de R$ 10 milhões.
Conforme as investigações, com base no relatório técnico da Controladoria Geral do Estado (CGE), a Instituto de Natureza e Turismo (Pronatur) já recebeu mais de R$ 31 milhões do governo neste ano, sendo pagos e pagos, efetivamente, a monta de R$ 28.009.217,00. Tais valores foram repassados via emendas parlamentares impositivas, sem chamamento público entre a Seaf e o Pronatur.
Consta nos autos que Luiz Artur de Oliveira Ribeiro, conhecido como Luluca Ribeiro, era o secretário de Estado de Agricultura Familiar e, na condição de gestor da pasta, autorizou o repasse dos valores de emendas parlamentares impositivas ao Pronatur para a aquisição de kits de ferramentas, sem o devido processo licitatório. O valor efetivamente pago nesta compra foi de R$ 28.009.217,00.
Leonardo da Silva Ribeiro era o servidor público estadual que atuava como fiscal de todos os termos de fomento celebrados entre a Seaf e o Pronatur em 2024. Ele ocupava cargo na superintendência, conferindo ares de legalidade a contratações irregulares.
Já Rita de Cássia Pereira do Nascimento era servidora comissionada na Seaf, sendo apontada como pessoa de extrema confiança de Luluca. Ela ocupava lugar no gabinete do secretário, assessorando a então chefe de gabinete. Também era pessoa de confiança da cúpula da direção do órgão e tem notório conhecimento de sistemas de informática. Rita é a única servidora que possuía acesso às 3 pastas da rede compartilhada (que tiveram exclusão suspeita de arquivos após exoneração de Luluca).
Wilker Weslley Arruda e Silva, direitor-presidente do Pronatur, foi signatário junto com Luluca dos termos de fomento ilegais e superfaturados celebrados entre a Seaf e o Pronatur. Ele teve considerável elevação de patrimônio e possui 4 veículos de luxo e dois imóveis. Wilker também é proprietário da empresa GH Borges Serviços e Negócios Imobiliários Ltda (Gold Planning Investimentos), acompanhado de Helton Carlos de Arruda Borges, sendo que ocorreram movimentações suspeitas na conta de Helton, incluindo depósitos em espécie na monta de R$ 437.490,00 e saques em espécie.
Yhuri Rayan Arruda é conselheiro fiscal do Pronatur e apresentou orçamento para serviços de contabilidade nos termos de fomento celebrados entre a Seaf e o Pronatur, mesmo enquanto membro daquele Conselho, ferindo o distanciamento necessário para garantir a independência da função fiscalizadora. Consta nos autos que há indícios de que Yhuri fez parte do conluio para que o Pronatur e seus beneficiários conseguissem desviar verba pública por meio dos Termos de Fomento.
Alessandro do Nascimento é o sócio-oculto da empresa Tupã Comércio e Representações, que teria sido a fornecedora dos kits de ferramentas adquiridos com sobrepreço, para desvio de recursos públicos. Ele seria o principal articulador do esquema criminoso. Consta patrimônio milionário registrado em nome de sua filha Ana Carolina Ormond Sobreira, a qual Alessandro utilizava para fazer movimentações financeiras tidas como suspeitas, bem como saques em espécie.
Euzenildo Ferreira da Silva aparece como sócio e administrador da empresa Tupã Comércio e Representações. Porém, ele foi identificado como “laranja” de Alessandro. Ele também consta como sócio da empresa EPX Comércio e Serviços Ltda. e no quadro societário das empresas Ribeiro Comércio e Tubarão Empreendimentos, todas de propriedade de Alessandro. As investigações apontam que Euzenildo seria pessoa humilde, com ocupação declarada de “chapeiro”, sem qualquer bem móvel ou imóvel em seu nome.
Ana Caroline Sobreira Ormond do Nascimento, filha de Alessandro, teria fornecido a seu pai poderes amplos para gerir suas contas bancárias, assim como bens móveis e imóveis em seu nome, além de dar a ele poder de tomar decisões em tudo que dizia respeito à sua vida administrativa e financeira. Ana possui mais de R$ 5 milhões em bens em seu nome, como 3 veículos e 8 imóveis. Ela consta como proprietária da empresa KSH (Tubarão) que, no entanto, é administrada por seu pai. Um grande volume de dinheiro foi movimentado nas contas bancárias dela.
Matheus Caique Couto dos Santos também seria alguém que tem amplos poderes para administrar as empresas Tupã Comércio e Tubarão Empreendimentos. Ele possui poderes iguais a Alessandro, concedidos via procuração pública de Ana Caroline Ormond.
Diego Ribeiro de Souza é sócio ativo de empresas que seriam de Alessandro, além de já ter integrado o quadro societário da empresa de Ana Caroline. Ele foi beneficiado diretamente com o desvio dos recursos e teria envolvimento no saque dos valores distribuídos entre as empresas ligadas a Alessandro. Foram identificados saques em espécie em uma das empresas que seriam de Alessandro, no ano de 2023 a 2024, que somaram a monta de R$ 1.185.000,00, sendo Diego o único sócio ativo da empresa.
Operação
A Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) bloqueou R$ 28 milhões dos alvos da Operação Suserano, que teve principal alvo o ex-secretário de Agricultura Familiar de Mato Grosso (SEAF), Luluca Ribeiro (MDB), demitido em julho deste ano.
Além de Luluca, foram alvos o dono de artigos esportivos Alessandro do Nascimento, e sua filha, Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento, o primo dela Matheus Caique Couto dos Santos, Diego Ribeiro de Souza, Rita de Cássia Pereira do Nascimento, Wilker Weslley Arruda Silva, Yhuri Rayan Arruda de Almeida, Euzenildo Ferreira da Silva e Leonardo da Silva Ribeiro.
Os investigadores apontam possíveis sobrepreços de até 80% do valor de mercado em termos de fomento que seriam usados para a compra de kits de agricultura familiar.
Fonte: https://www.gazetadigital.com.br/editorias/judiciario/veja-a-participacao-dos-alvos-da-operacao-que-mirou-esquema-na-seaf/784908