05/02/2025

Série ‘VLT é hora de decidir’ mostra detalhes da obra que já custou R$ 1 bilhão em dinheiro público e está parada

Só 6 dos 22 km previstos foram concluídos e até agora já foram gastos R$ 1,066 bilhão. A obra começou em 2012 e deveria ficar pronta em 2014 para a Copa do Mundo.

(Por Eunice Ramos, TV Centro América)

 VLT de Cuiabá tem só 6 km de trilhos construídos, do total de 22 km — Foto: Gcom-MT
VLT de Cuiabá tem só 6 km de trilhos construídos, do total de 22 km — Foto: Gcom-MT

 

O Bom Dia Mato Grosso começou a exibir nesta terça-feira (25) a série ‘VLT é hora de decidir. Desde 2012 a população de Cuiabá e Várzea Grande participa das discussões sobre a obra do Veículo Leve sobre Trilhos, que inicialmente desafogaria o trânsito e facilitaria o acesso de turistas que desembarcariam em Mato Grosso para os jogos da Copa de 2014, mas o projeto original quase não avançou.

A dona de casa Rosária Correa, que mora no Bairro Jacarandá, em Várzea Grande, região metropolitana, pega dois ônibus por dia e reclama da falta de conclusão da obra. “Começaram a estragar a cidade dizendo que ia ter VLT e até agora nada, é só buraco que virou a cidade “, criticou.

A ideia era promissora: receber turistas para a Copa do Mundo com transporte moderno e de qualidade. O projeto prevê 22 km de trilhos em duas linhas: uma liga o Aeroporto Marechal Rondon ao Centro de Cuiabá e outra liga o Centro aos bairros da capital. Mas, na prática, só 6 dos 22 km previstos foram concluídos e até agora já foram gastos R$ 1,066 bilhão

Além da infraestrutura para a implantação dos trilhos, também foram comprados equipamentos. O estado adquiriu 40 trens com 280 vagões

Com a manutenção, são gastos R$ 1,2 milhão por mês. Neste valor estão incluídos custos com ações de rotina para manter os equipamentos funcionando, reparos, seguro, e vigilância.

https://globoplay.globo.com/v/7717419/

A obra começou em 2012 quando Silval Barbosa era governador. Inicialmente a proposta era o BRT – sistema integrado de ônibus -. que saía bem mais em conta. Mas o governo acabou optando pelo VLT que era bem mais caro. O valor total na época era um R$ 1 bilhão, mas os torcedores chegaram para os jogos da Copa e foram embora sem andar de VLT, nem as desapropriações necessárias ao longo do trajeto foram concluídas.

O contrato com o consórcio VLT foi rescindido unilateralmente pelo estado em 2018 como resultado de um processo administrativo motivado pela delação do ex-governador Silval Barbosa. Segundo o ex-governador, 3% foram tirados da parte de infraestrutura do projeto, orçado em R$ 600 milhões.

A propina engordou o caixa da quadrilha de Silval Barbosa, somando R$ 18 milhões. A maior parte do dinheiro foi usada, segundo ele, para pagamentos de empréstimos ilegais feitos desde o governo de Blairo Maggi, como o banco rural e empresas de factoring clandestinas, ou seja, agiotas, entre eles Valdir Piran e Júnior Mendonça, que já foram denunciados em outros esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção no estado.

Esses empréstimos seriam usados para alimentar as bocas da corrupção. Por exemplo, deputados que cobravam as chamadas vantagens indevidas para facilitar a execução de obras da Copa. Silval Barbosa disse à Procuradoria Geral da República, que em um determinado momento era tanta gente exigindo propina, que isso já ameaçava as obras.

Em junho deste ano, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso reconheceu o direito do estado de rescindir o contrato com o Consórcio VLT. Enquanto não se define o destino desta obra, a população convive com esta situação.

“Na verdade não tem nada, eles só estragaram a cidade. Tem muitos pontos que eles tiraram as coisas do lugar para fazer esse VLT e não veio melhoria nenhuma. Foi uma falcatrua dos políticos “, disse a confeiteira Marrinick Santos da Silva.

A Avenida da Feb, que liga Cuiabá a Várzea Grande, é uma das mais prejudicadas com a paralisação da obra. Não tem mobilidade, principalmente para pedestres e os acidentes acontecem com frequência.

No canteiro por onde deveria estar passando o VLT, a imagem é de abandono. De um sonho coletivo, restou apenas uma cicatriz.

“Ficou uma cicatriz horrível para o povo mato-grossense., principalmente o povo várzea-grandense. Isso aí fica marcado no coração do povo mato-grossense. Uma coisa que podia ser resolvido logo e não, fica tudo aí, tudo parado. Até quando vamos continuar com essa situação que está?”, questiona a dona de casa Solange Borges.

Para o comércio de Várzea Grande, a ‘novela’ não foi um bom negócio. Muitas empresas que estavam instaladas na Avenida da FEB cansaram de esperar e fecharam as portas.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), David Willian Correia Pintor, o maior prejuízo que foi o fechamento de empresas, principalmente no período de obras do VLT.

“Várzea Grande foi a cidade que teve o maior impacto na região da Avenida da FEB, onde se contemplou a maioria da obra do VLT. Oitenta por cento daquele comércio fecharam as portas, esses empresários tiveram que demitir pessoas, fecharam suas empresas, sem nenhuma garantia, sem nenhuma assistência do governo do estado, daquela época, que retornaram algumas atividades naquela avenida, ainda não sabe o que pode acontecer amanhã. Às vezes pode ter novamente o desgosto de serem impactados por uma obra sem planejamento, sem pensar naquela empresa que está ali, sem pensar aqueles trabalhadores que estão naquele local”, criticou.

Entre os usuários o assunto divide opiniões. “Se começou porque não terminar? Por que parou ? né? Tem como retomar estas obras com certeza. O povo é a voz de Deus e porque não ouvir a necessidade do povo cuiabano e Várzea Grande?” , disse Solange Borges.

Já para o professor aposentado Antônio Alberto Schommer, Cuiabá não precisaria do VLT. “Um gasto enorme, um gasto do dinheiro público, sem finalidade. Se tivessem feito o BRT, abrindo o corredor para o ônibus, seria muito melhor, muito mais barato”, avaliou.

Segundo o arquiteto José Lemos, devido ao valor já gasto, não vale a pena abrir mão do modal. “Vale a pena retomar a obra do VLT, do ponto de vista econômico. Na época em que se discutia o assunto, que valia a pena se discutir porque estava decidindo, eu me posicionei a favor do BRT, por ser mais barato por usar uma tecnologia nacional, usar um combustível, do qual à época Mato Grosso era o maior produtor, que era o biodiesel”, defendeu.

Ele afirmou que à época era mais interessante o BRT por causa do prazo curto até a Copa do Mundo. “Mais uma vez decidido politicamente pelo VLT, eu hoje sou a favor do VLT, e, como cuiabano, não mais como um técnico. Acho que nós temos que cobrar esse modal, porque já foi investido muito recurso nisso e esse recurso todo que já foi investido seria justamente aquele subsídio do governo para fazer com que o preço do modal se equiparasse com o dos ônibus normais. Então se você abandonar isso, você vai praticamente jogar fora todo esse custo, todo esse dinheiro que é pago pelo povo, mas é o povo que tá pagando”, enfatizou.

A assessoria de imprensa do consórcio responsável pelas obras informou, por nota, que vai seguir mostrando ao Judiciário, às autoridades e à população que o objetivo é retomar e concluir o VLT. Sobre a delação do ex governador de que foi pago propina, o consórcio não se pronunciou até o momento.

Fonte: https://g1.globo.com

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