(Por: Camila Ribeiro)
O secretário-chefe da Casa Civil, Mauro Carvalho, afirma que o Governo não trabalha com a hipótese de o “pacotão” de projetos elaborado pelo Poder Executivo não ser aprovado na Assembleia Legislativa.
Entre as medidas estão o novo Fethab, a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual, reforma administrativa e a que cria normas para pagamento da Revisão Geral Anual (RGA).
“Nós não acreditamos na não aprovação. Não é possível que alguém vá pensar contra o Estado de Mato Grosso. Não existe plano B. E este plano é a solução”, disse Carvalho, em entrevista ao MidiaNews.
“O governador está aí de passagem, daqui a pouco outro é que estará aí. Temos que pensar no Estado. E essas reformas foram feitas pensando no Estado”, acrescentou.
Ao longo da entrevista ele falou sobre a situação financeira do Estado, a qual ele classifica como “caótica”, mas observou que o governador Mauro Mendes (DEM) não fará gestão “olhando pelo retrovisor”.
“A situação é caótica, mas temos que limpar essa pauta agora. Estamos aí com atraso de folha, atraso com fornecedores, temos que excluir essa pauta. Estamos aqui para discutir o desenvolvimento, o crescimento e a industrialização do Estado”, disse.
Carvalho também detalhou algumas das medidas que vem sendo tomadas pelo Executivo como forma de equilibrar as despesas e receitas do Estado. Também tratou de assuntos como os debates com o setor produtivo – por conta do novo Fethab – e com o Fórum Sindical.
Segundo ele, o Executivo está disposto a discutir com todos os setores. Todavia, “não será pautado por ameaças”.
“A sociedade elegeu Mauro Mendes para fazer os enfrentamentos necessários. E o Mauro e sua equipe têm coragem para isso. Quando falo enfrentamentos, são todos para melhorar a qualidade e os serviços que o Estado tem que entregar para a população. Não se trata de enfrentamento no sentido de contrapor, de briga, de bater na mesa, de gritar. Muito pelo contrário”.
Veja os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Imagino que no período de transição de Governo, o senhor já percebeu que assumir a Casa Civil seria uma missão espinhosa, árdua. Em algum momento titubeou em aceitar o convite?
Mauro Carvalho – Não! Nunca fiquei… Até porque, quanto maior o desafio, mais me motiva. Então, em nenhum momento pensei em desistir ou coisa parecida. Muito pelo contrário. O desafio é grande. Logicamente que depois de assumirmos o Governo encontramos surpresas que nenhuma pessoa eleita gostaria de encontrar. O governador Mauro Mendes não gostaria de assumir e atrasar salário de servidor. Ainda mais uma coisa que é totalmente sagrada. As pessoas dependem disso para sustentar suas famílias. É algo muito triste. Esse não era o sonho do governador Mauro Mendes. A gente tinha noção de que a situação era muito crítica, uma situação financeira caótica, mas não a esse ponto de ter que escalonar tudo, de não conseguir pagar, fornecedores sem receber. Porque quando a gente fala numa situação ruim que o Estado está atravessando, é uma situação que não estamos pagando fornecedor nenhum. Com exceção de água, luz, telefone, comida de reeducandos, combustível para frota da polícia – que, diga-se de passagem, 50% foi bloqueada por falta de pagamento. Então, não é uma situação que te traz satisfação, mas ao mesmo tempo é um desafio muito grande para você trazer as soluções.
MidiaNews – O senhor diria que a situação que vocês herdaram é absolutamente caótica?
Mauro Carvalho – Muito caótica. Agora, nós não vamos também governar olhando para o retrovisor, muito pelo contrário. Temos que limpar essa pauta agora, que estamos aí com atraso de folha, atraso com fornecedores, temos que excluir essa pauta. Estamos aqui para discutir o desenvolvimento, o crescimento, a industrialização do Estado. É isso que nós queremos. Não vamos ficar o tempo todo falando do passado. Temos que criar soluções urgentes para resolver isso e repensar o Estado de Mato Grosso.
A situação é caótica? É. A solução estamos apresentando, que são as reformas na Assembleia Legislativa. Estamos atacando em várias frentes. E o que temos que fazer é formar um “pacto por Mato Grosso”. Esse pacto envolve toda a sociedade, independente do local que você ocupa. Envolve empresários, funcionários públicos, iniciativa privada, poderes, toda a sociedade mato-grossense. Não dá para pegar o Estado da forma que está e as pessoas não contribuírem. Nossas famílias vivem aqui, então é um pacto realmente para mudança. Esse é o nosso compromisso.
MidiaNews – Qual a base de planejamento para reorganizar a situaçao?
Mauro Carvalho – A reforma administrativa que estamos fazendo, reduzindo de 24 para 15 secretarias, reduzindo o número de cargo comissionados, reduzindo o número de contratados. Mandamos essas reformas e algumas foram até mal interpretadas. Quando a gente pede a autorização para o fechamento de empresas, não significa que elas serão fechadas hoje. O que estamos falando para sociedade é o seguinte: queremos saber a produtividade e a viabilidade dessas empresas. Vamos ter um período de adaptação. Se essas empresas realmente forem viáveis, elas não serão fechadas. Agora, para isso temos que mostrar a viabilidade delas. Até hoje a sociedade não encara como sendo uma empresa viável. Quando a gente fala, por exemplo, de uma Metamat, muita gente diz que não entende por que existe. O Estado não tem uma mineradora.
Mas aí, por exemplo, o deputado estadual Wilson Santos diz que a Metamat é viável. Então queremos escutar esse projeto. Se realmente for viável, não tem problema nenhum em ela ser reestabelecida. O que nos queremos é escutar, por isso pedimos essa autorização.
MidiaNews – A máquina está de fato muito inchada?
Mauro Carvalho – Muito! Ela foi se expandindo ao longo dos anos de uma forma absurda.
MidiaNews – Por conveniência política?
Mauro Carvalho – Não sei por conivência política, se por irresponsabilidade, se por falta de gestão ou falta de compromisso com a sociedade. Vou mais por esse lado, uma falta de compromisso. As pessoas foram eleitas para entregar um resultado melhor para a sociedade. Então, inchar a máquina pública da forma como ocorreu é uma falta de compromisso. Existe “n” formas de gerar empregos no Estado. O Estado hoje é o maior empregador de Mato Grosso, mas o Estado tem que ser um indutor do desenvolvimento e gerar emprego na iniciativa privada. É aqui que nós temos que trazer essas pessoas.
Temos um Estado enorme. Cabem aqui dentro três estados de São Paulo, mas nós não temos gente. Temos 3,2 milhões de pessoas aqui, com 141 municípios. Se não me engano, o 15º município do Estado já tem menos de 20 mil habitantes. Temos bairros em Cuiabá com uma população maior que essa. E, nesses bairros, não tem prefeito, não tem vereador, não tem fórum, não tem delegacia. Então, nós temos que estudar isso também. Temos que atrair pessoas para cá. Não existe outra forma, se não for a industrialização.
MidiaNews – Antes de chegar nesse ponto, queria que o senhor explicasse um pouco sobre os números do caixa. Vocês assumiram o Governo com um passivo de R$ 3,9 bilhões?
Mauro Carvalho – A conta é essa: parte é do déficit e parte é de dívidas. R$ 1,6 bilhão de déficit para esse ano, o restante são dívidas. Como vamos colocar R$ 4 bilhões em caixa da noite para o dia? O Governo é totalmente diferente da iniciativa privada, onde muitas decisões que você toma, você já colhe resultados daqui dois ou três meses. Aqui no Governo, tomamos decisões e, de repente, vamos colher os resultados no último ano do mandato.
Por isso que a reforma do governador Mauro Mendes é tão contundente e tão grande. Não tem como fazer as coisas aos poucos. As reformas são extremamente importantes para os próximos quatro anos de Governo. Por isso foi colocado tudo de uma vez. Se aprovadas, teremos um horizonte melhor lá na frente.
MidiaNews – Quais são os principais pontos da reforma?
Mauro Carvalho – Todos são importantes. Não tem como falar de um único ponto. A Lei de Responsabilidade Fiscal estadual, por exemplo, é fundamental para colocarmos uma regra no negócio. O governador não vai ficar abrindo empresa, sem ver o impacto econômico, financeiro, o impacto social. Ele não vai sair dando incentivos fiscais para todo mundo. Há um teto para isso. O governador não poderá dar aumentos salariais que comprometam a próxima gestão. Então, uma série de coisas na LRF que colocam uma regra para o governador. Um limite. Tem que ter muita coragem para fazer algo desse tipo. O governador não recebeu um cheque em branco da população para vir aqui e fazer o que ele quer. Ele tem que ter regras e a LRF esclarece essas regras.
Aí você tem a lei que trata da RGA [Revisão Geral Anual]. Se olharmos quando a lei foi colocada pelo então governador Blairo Maggi, já dizia que teria que existir um equilíbrio fiscal e financeiro do Governo. Só que ela foi contemplando os funcionários sem regra alguma. E ninguém levou em consideração o que a lei dizia naquele momento. O que estamos fazendo hoje é esclarecer isso.
MidiaNews – Mas a lei anterior não tinha critério?
Mauro Carvalho – Não tinha os indicadores do que é realmente o equilíbrio fiscal e financeiro. O que estamos esclarecendo é: o que é o equilíbrio fiscal? O que é o equilíbrio financeiro? Não estamos mudando nada na lei da RGA, apenas esclarecendo e colocando quais os indicadores. O Estado atendendo os indicadores, pagará RGA. Mas tem que ter regras.
MidiaNews – Sobre a RGA – e até olhando a gestão passada, quando houve um descompasso no diálogo entre o Governo e os servidores -, isso não inspira certo receio de logo de cara a atual administração “queimar a largada” nessa relação com servidores?
Mauro Carvalho – Assumimos o poder público. Então as pessoas têm que ter ciência dos números do Governo. Se nos governos anteriores não existia uma transparência e os números não eram tão colocados da forma como deveriam, nós não faremos isso. A população pode contar que nos quatro anos de Governo, vai saber de todos os números do Estado. Não tem porque esconder isso. Muitas vezes falam “queimar uma largada”. Não vejo desta forma. Se não fizesse isso agora, faria mais à frente. Não tem como o Estado conviver desta forma. Tudo que não podemos perder é a confiança e a credibilidade da sociedade. E quando a gente fala da sociedade, estamos falando do funcionalismo público também.
MidiaNews – Os servidores públicos, via de regra, mesmo sabendo das dificuldades, querem receber seus direitos adquiridos.
Mauro Carvalho – Veja bem: quem participou dessas reformas elaboradas pelo Governo foram servidores públicos efetivos. Não foram consultorias externas, técnicos externos. Quem está construindo isso são funcionários do Governo. A pessoa não está pensando no umbigo dela hoje. Porque daqui a pouco essa pessoa aposenta e precisa ter a Previdência para pagar seu salário. Do jeito que está indo, com o déficit da Previdência, daqui a pouco não tem dinheiro para pagar ninguém. Quando a gente fala “o servidor não quer”, “o servidor não aceita”, temos que pensar em conjunto, todo mundo do mesmo lado da mesa. De repente vamos perder algo agora, mas vamos conquistar lá no futuro. O que a gente não pode é caminhar para um momento – que estava acontecendo no Estado – onde todos iriam perder.
MidiaNews – O senhor acredita que a maioria dos funcionários públicos é favorável a essas reformas?
Mauro Carvalho – Acredito que sim. A gente vê na iniciativa privada algumas empresas passando pelo mesmo problema que o Estado está passando hoje. Eles [funcionários] entendem, vêm pro jogo, viram realmente sócios do problema, constroem soluções juntos. Tudo que não podemos pegar hoje é um servidor público que está na área econômica e fazê-lo assinar coisas que ele será processado depois. Falar “ah, não pago poderes”, “não repasso dinheiro dos municípios”, “não pago o Fundeb”. Não pode. Quem vai por o CPF ali desse servidor para ele assinar e depois ser processado por improbidade administrativa? Tem coisas que não podemos fazer, porque não tem como fazer, sob pena de estar cometendo irregularidades. E tudo que esse Governo não vai admitir é irregularidade.
MidiaNews – Se a maioria dos servidores está a favor da reforma, o problema seria o Fórum Sindical?
Mauro Carvalho – Não, muito pelo contrário. Não acredito que venha greve. Não creio que no momento que estamos atravessando agora, governo que não tem 30 dias, o servidor não queira ser parceiro desse governo. O Fórum Sindical está aberto para trazer as soluções para o governo. Se ele acha que estamos errando em alguma decisão, traga soluções que estamos abertos. Temos essa humildade, não somos dono da verdade. Temos que construir a verdade juntos. E construir as soluções juntos.
Os sindicatos estão no direito de reivindicar. Cabe ao gestor que senta na cadeira falar sim ou não. Agora, se o servidor conquistou direitos que estão fora do contexto, fora da média do mercado privado, está no direito de reivindicar. Mas repito: as pessoas eleitas é que dirão o sim ou não. Sindicatos sempre estarão reivindicando, mas também têm que contribuir com as soluções, diante dos problemas que estamos atravessando. Mas as soluções devem ser constitucionais. Não vamos aqui dizer: “Paga salário e deixa de repassar o dinheiro para os municípios”. Não vamos fazer isso. “Deixa de pagar Fundeb”, “deixa de pagar poderes”. Não vamos colocar CPFs de funcionários públicos para responder judicialmente por coisas erradas.
MidiaNews – Incomoda esse tom de certa forma mais agressivo que o sindicato tomou desde o início? Sinalização de greve…
Mauro Carvalho – Encaro isso como uma negociação normal. Esse tipo de pressão, “faca no pescoço”, ameaça disso ou daquilo é algo com que teremos a frieza para tratar. Não é isso que vai comover o Governo a tomar suas decisões. O Governo será comovido com soluções técnicas e profissionais e que sejam produtivas. Não vamos atingir situações por comoções ou coisa parecida.
Esse governo não será pautado por ameaças ou coisas do tipo. Estamos preparados para os enfrentamentos. A sociedade elegeu Mauro Mendes para fazer os enfrentamentos que devem ser feitos. E o Mauro e sua equipe têm coragem para isso. Quando falo enfrentamentos, são todos para melhorar a qualidade e os serviços que o Estado tem que entregar para a população. Esses são os enfrentamentos que estamos dispostos a fazer. Não se trata de enfrentamento no sentido de contrapor, de brigar, de bater na mesa, de gritar. Muito pelo contrário.
Já tivemos aí a redução no duodécimo da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Contas. Aí muitos dizem: “E os demais Poderes?”. Temos que ver que já demos o primeiro passo. O Judiciário e o MPE estão com dois, três anos com o orçamento congelado. Mas demos o primeiro passo, para dar o segundo, nos vamos construir isso. Não estamos numa corrida de 100 metros. Estamos numa maratona de 40 km. O que manda não é a fotografia da largada, mas sim da chegada. Isso que estamos construindo.
MidiaNews – Só mais uma questão em relação ao Fórum Sindical. O que o senhor está falando é que o Governo não ficará refém do Fórum?
Mauro Carvalho – Veja bem: o que queremos é que o Fórum seja parceiro do Governo. O Fórum tem que entender o momento que estamos atravessando agora. É muito triste para um governador assumir o governo nessa situação. O Fórum tem que vir junto com a gente, tem que ser parceiro nas soluções e nos problemas. Estamos do mesmo lado da mesa, temos que construir juntos. E eu vejo essa boa vontade do Fórum. Não acredito que o Fórum queira destruir o Governo, pelo contrário. E também temos que pensar a longo prazo. Não temos como pensar só no momento que estamos vivendo hoje. Temos a Previdência, aumentos salariais futuros, são muitas coisas que vejo que o Fórum pode contribuir muito.
MidiaNews – Pelo menos à imprensa, o Fórum tem dado algumas declarações mais fortes, no sentido de que o governo “começou errado”, “não dialoga com servidores”, de que o governo teria adotado uma postura “intransigente”. E, logo que foi lançado o calendário de escalonamento, eles divulgaram uma nota citando um indicativo de greve.
Mauro Carvalho – O movimento sindical é um movimento democrático e nós respeitamos isso. O que deixou o Fórum penso que numa situação que eles não gostaram naquele momento foi que o Governo colocou um calendário de pagamento baseado não no que o funcionário público estava pedindo – eles queriam uma segurança até para contratar com bancos, entre outros – mas a programação que o Governo fez não agradou. Eles entendiam que poderia ter feito de forma melhor. Mas, em seguida, já trouxemos o Fórum Sindical pra dentro do Palácio, numa reunião de cinco horas, onde o governador ficou presente 1 hora e 45 minutos.
Então se o Governo colocou um calendário e o Fórum naquele momento não gostou, chamamos na mesma hora. Não temos problemas nenhum… Se a gente errar, teremos humildade de reconhecer e voltar atrás. Agora, veja bem, não podemos voltar atrás nesse calendário de pagamento, pois não temos nenhuma perspectiva de aumento de receita em três dias, cinco dias, uma semana, para reverter o calendário colocado.
MidiaNews – O Governo gasta quanto com folha salarial mensalmente?
Mauro Carvalho – Hoje a folha consome 75% da arrecadação do Estado; sobra zero pra investimento. Investimento não. O que temos aí paga custeio para manter a máquina. Se a gente for ver em governos anteriores, no Governo Blairo Maggi, por exemplo, sobrava quase duas vezes mais do que o valor da folha para investir.
Quando a gente fala assim: “O Estado arrecadou R$ 1 bilhão neste mês”. Arrecada esse valor, mas desse dinheiro fica em torno de R$ 400 milhões para o Estado, pois há repasses aos municípios, Fundeb, poderes. Então, a conta é mais ou menos o seguinte: para sobrar R$ 1 bilhão na conta, o Estado tem que arrecadar R$ 2,2 bilhões.
MidiaNews – Um dos motivos que contribuíram para essa folha fora da realidade foram as leis de carreira aprovadas na gestão Silval Barbosa. Em relação a isso, pensam em fazer algo?
Mauro Carvalho – São discussões que poderão vir na pauta. Por enquanto a lei existe. São discussões que ainda vamos ampliar. E não é só isso. Tem secretariais que nós temos aumentos para os próximos cinco anos, que o Estado terá que arrecadar R$ 1 bilhão a mais por ano. De onde vamos tirar esse dinheiro? O servidor também é contribuinte do Estado.
MidiaNews – Em algum momento vocês vão colocar o dedo nessa ferida?
Mauro Carvalho – Se não tiver necessidade não, mas vai depender da receita do Estado e de quanto vamos conseguir reduzir esse custo. Se o Estado tiver condição de pagar isso, vai pagar. Se não, vamos ter que sentar todo mundo de novo pra discutir.
MidiaNews – Em relação a redução de duodécimo dos Poderes, no caso da Assembleia Legislativa saiu de R$ 506 milhões para R$ 471 milhões. Ainda não é muito dinheiro para um poder?
Mauro Carvalho – Nunca fui deputado. Olhando o número de fora, é muito dinheiro. Mas quando você vê a arrecadação do Estado, também é muito dinheiro. Não tenho como dimensionar isso. Acredito que dê para reduzir mais um pouco. Mas é um segundo momento, uma segunda pauta. E o presidente [da Assembleia] Eduardo Botelho, que está lá hoje, está muito consciente disso. Os deputados também. Isso será uma construção a quatro mãos. O governo é um poder independente, temos que respeitar essa independência. Mas se a Assembleia precisar do governo com relação a reestudar esse orçamento, ver o que pode diminuir, o governo está pronto para ajudar. O fato de a Assembleia ter diminuído R$ 35 milhões de seu orçamento já é um sinal de que eles também irão repensar o orçamento deles.
MidiaNews – Falando um pouco de articulação política, como está o relacionamento com a Assembleia?
Mauro Carvalho – Por ordem do governador Mauro Mendes, não estamos interferindo em nada na eleição da Mesa. Estamos respeitando a autonomia dos poderes.
MidiaNews – O candidato do governo é o atual presidente Eduardo Botelho?
Mauro Carvalho – O Mauro tem uma simpatia pelo Botelho, até porque são do mesmo partido. Mas o Mauro não tem feito campanha para ninguém. Com relação à composição de Mesa, não existe qualquer interferência do governo. E estamos respeitando isso.
A relação com o Legislativo tem sido muito boa. Não há problema nenhum. Encaminhamos as reformas e até muito questionaram o porquê de mandar agora e não em fevereiro. Primeiro porque também temos que respeitar os deputados que estão aí, cujos mandatos terminam no dia 31. Agora, nós temos pressa pelas reformas.
MidiaNews – Como estão as conversações? Pois sabemos que cada grupo de deputados defende um segmento. Há muita “chiadeira”…
Mauro Carvalho – Acredito que vamos aprovar todas as reformas agora. Logicamente podem surgir emendas, mas estamos muito confiantes em aprovar neste mês de janeiro. Perdemos o Fethab de janeiro, que são R$ 50 milhões a menos no caixa. Daí a importância da agilidade.
MidiaNews – E por falar nisso, um dos segmentos que está inspirando cuidado, que está insatisfeito com os encaminhamentos do Governo, é justamente o setor produtivo, em função do novo Fethab. Vocês admitem mexer naquilo que foi encaminhado para Assembleia?
Mauro Carvalho – Nós admitimos outras soluções, desde que não interfira na arrecadação. Se tiver que mudar algo e as soluções apresentadas por eles forem factíveis, não tem problema nenhum, desde que não se altere a arrecadação. Logicamente, que nem o Governo, nem o empresário, nem o contribuinte gosta de aumentar imposto. Mas, infelizmente, chegou o momento de todos contribuírem. Toda a sociedade, independente do lugar que ocupam. O agro faz parte da sociedade e vai contribuir. Vamos conversar com a indústria e com o comércio também. Todos darão sua cota de contribuição.
MidiaNews – Sobre essa proposta nova do Fethab. O segmento do algodão, por exemplo, pagava R$ 28,45 por tonelada e passaria para R$ 48,64. Parece um valor plausível.
Mauro Carvalho – Os técnicos do governo acham que esse número é factível, pela remuneração da atividade. O pessoal do Fórum Agro acha que não, acha que o governo extrapolou os números. Vamos continuar discutindo. O que a gente não pode perder é a consciência de que temos que aumentar. Não tem como sair fora dessa pauta.
MidiaNews – Em meio a essa discussão forte que envolve o setor produtivo, o senhor entende que chegou o momento de discutir a taxação do agronegócio?
Mauro Carvalho – Chegou a hora e nós estamos conversando com toda nossa bancada federal. Essa é a primeira pauta, temos que rediscutir a Lei Kandir. O Estado perde muito com isso. A Lei Kandir seria a grande solução financeira para o Estado. E precisa a bancada rever isso. Não podemos ser penalizados por ser um Estado praticamente exportador. Temos que ter a compensação.
MidiaNews – O caminho seria definir uma alíquota?
Mauro Carvalho – Definir uma alíquota e que ela seja repassada mensalmente ao Estado, ou anualmente. Mas de uma forma que seja coerente e não como vivemos hoje. Não podemos ser prejudicados por uma lei feita em 1996, quando a realidade era totalmente diferente. O País mudou muito. O que queremos é voltar a discutir, e que seja uma lei justa.
MidiaNews – Com relação às mudanças no novo governo, quantos funcionários já foram demitidos desde a posse?
Mauro Carvalho – Excluindo contratados – que esse número teremos em fevereiro e março –, de comissionados já passa de 500.
MidiaNews – Se aprovado todo esse pacote de projetos encaminhados a Assembleia, quanto deverá entrar de recursos no caixa?
Mauro Carvalho – Os números ainda estão sendo levantados pela equipe econômica. Mas serão valores significativos e que serão divulgados em breve.
MidiaNews – Na hipótese de os projetos não serem aprovados, ou parte deles, por exemplo, o Governo trabalha com um “plano B” para encontrar o equilíbrio financeiro?
Mauro Carvalho – Nós não acreditamos na não aprovação. Não é possível que alguém vá pensar contra o Estado de Mato Grosso. Acho que a não aprovação é porque alguém não está pensando nesse Estado. Então, não existe plano B. E este plano [pacotão de projetos] é a solução. Nós estamos confiantes de que as pessoas realmente querem pensar no Estado e não no governador Mauro Mendes. O governador está de passagem, daqui a pouco outro estará aí. Temos que pensar no Estado. E essas reformas foram feitas pensando no Estado.
MidiaNews – Um dos grandes gargalos desde sempre no Estado é a área da Saúde. Falta medicamento, falta atendimento adequado, unidades sendo fechadas, os problemas das organizações sociais. O que vocês farão emergencialmente na Saúde?
Mauro Carvalho – O secretário Gilberto Figueiredo tem se desdobrado, visitado todas as unidades… E, quanto às ações emergências, tem coisas que dependemos do próprio Ministério da Saúde. O Gilberto tem feito um trabalho gigante para encontrar soluções imediatas. A Saúde não pode esperar. O governador tem determinado que as soluções emergenciais na Saúde sejam tomadas todos os dias. Tem hospitais que estavam sem medicamentos e fizemos a transferência de medicamentos para essas unidades. Tivemos o problema com o Samu, governador também autorizou a contratação de médicos. São serviços que não podem parar. O que temos que reestabelecer na Saúde é o respeito ao ser humano. E a gente só sente o problema da Saúde quando precisamos dela.
Na campanha eleitoral, o governador tratou muito da Saúde e a prioridade do Governo é resolver os problemas ou minimizá-los.O governador tem se reunido quase que diariamente com o secretário Gilberto para encontrar soluções emergenciais.
MidiaNews – O senhor diria que nestas duas semanas já foi possível fazer um diagnóstico do Estado ou ainda tem mais “esqueletos” aí?
Mauro Carvalho – Penso que já temos um diagnóstico, mas outras coisas ainda vão surgir. Por exemplo, tivemos em janeiro, de um total de 1,2 mil viaturas da Polícia, 500 foram paradas. Estávamos planejando isso em dezembro? Não. Essas coisas, por mais que tenhamos feito um diagnóstico, elas continuarão surgindo. Ainda deveremos tomar alguns sustos.
O secretário Alexandre Bustamante está chamando os fornecedores e pedindo um voto de confiança pra reestabelecer ao menos parte dessa frota.
Fonte: www.midianews.com.br