Investigações concluíram que desvios podem ter levado a prejuízo de R$ 28 milhões a cooperados
Pelo menos 21 “empresas fantasmas” supostamente usadas para lavar o dinheiro desviado da cooperativa Coprodia já foram identificadas pela Polícia Civil, após a deflagração da 3ª fase da Operação Etanol, na manhã desta quinta-feira (23).
De acordo com o chefe da investigação, o delegado Adil Pinheiro de Paula, de Campo Novo dos Parecis, onde fica a sede da cooperativa, já se sabe que houve desvios que totalizam R$ 28 milhões.
A cooperativa tem 46 cooperados – divididos em 19 famílias, quase todas moradoras de Campo Novo dos Parecis – e constitui importante fonte de renda e emprego da cidade.
Em Cuiabá foram cumpridos mandados de busca e apreensão e prisão contra o Haran Perpétuo Quintiliano, no Bairro Duque de Caxias. Ele seria o principal articulador das empresas de fachadas.
Além do Haran, foram presos o ex-gerente da cooperativa Adriano Froelich Martins, em Jaciara; o ex-responsável pelo setor de compras da cooperativa, Heberth Oliveira da Silva, em Sapezal; e o ex-gerente financeiro da empresa, Junio José Graciano, em Marília (SP).
Em entrevista na manhã desta quinta, o delegado explicou como o esquema funcionava. “Os envolvidos criavam empresas fantasmas, que emitiam notas fraudulentas para a cooperativa. Como o gerente à época estava envolvido, ele autorizava o pagamento e esse dinheiro ia para as empresas fantasmas. Depois, retornava aos membros da organização criminosa”, relatou.
Teve situações de empresas que tinham o certificado de consultoria e chegando no local, era um salão de beleza
A maioria das empresas, conforme Pinheiro, nunca sequer existiu ou tinha qualquer funcionário registrado.
“A maioria dessas empresas só existia no papel. Por exemplo, houve situações de um empresa que tinha certificado de consultoria. Chegando no local, era um salão de beleza. Não tinha nada a ver com o ramo especificado. Perguntamos para a dona do salão e ela disse desconhecer qualquer dos sócios da empresa”, afirmou.
Todos os empreendimentos espalhados pelo Brasil estavam no nome de Haran, que, segundo o delegado, nunca teve qualquer ligação empregatícia com a cooperativa.
“A gente também pesquisou que as empresas movimentavam R$ 3 milhões a R$ 4 milhões por ano e não tinham um funcionário sequer registrado. Era só a empresa aberta e a movimentação de nota fiscal. E toda nota fiscal para Coprodia. O único cliente que eles tinham era a cooperativa. Estava mais do que demonstrada a fraude, os desvios, a lavagem de capitais e também a organização criminosa integrada”, explicou.
“Nas notas eram discriminados serviços como consultoria e advocacia. Um alvo em Sinop movimentou mais de R$ 700 em serviços. Temos também serviços de informática e web site. Eles diziam que gastavam com programas para computador, manutenção do site, mas a cooperativa tinha a própria equipe de tecnologia da informação que nunca era acionada”, revelou.
Dois veículos de Haran também foram apreendidos: um Jeep Grand Cherokee branco e uma Mercedes Benz C 250 marrom.
A Operação
A 1ª fase da operação foi deflagrada em julho de 2017, quando houve o bloqueio dos bens do ex-diretor financeiro da Coprodia Nivaldo Francisco Rodrigues, apontado como um dos chefes do esquema.
Só dele foram bloqueados 15 imóveis em Campo Novo dos Parecis, 7 bens em Juína, Cuiabá e Paraná, além de recursos financeiros, automóveis e gado, demonstrando o enriquecimento ilícito do suspeito.
Nivaldo foi preso na segunda fase, após a Polícia Civil descobrir, que mesmo sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, ele continuou movimentando dinheiro da cooperativa. Entre o final de 2017 e começo de 2018 foram cerca de R$ 1 milhão – ato que estava expressamente proibido por determinação judicial.
Segundo a investigação, Nivaldo é o chefe do esquema, sendo o elo entre as empresas (fantasmas) que forneciam as notas falsas de prestação de serviço e o dinheiro da cooperativa. Ele também ficava com a maior parte do dinheiro desviado.
Nesta quinta-feira (23), além das prisões foram cumpridos 46 mandados de busca e apreensão em seis Estados da federação: Mato Grosso, Paraná, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rondônia.
Fonte: http://www.midianews.com.br