Ex-governador é acusado de liderar quadrilha que teria fraudado e superfaturado compra de imóvel no Manso
O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) foi interrogado na tarde desta quarta-feira (19) na ação penal derivada da Operação Seven, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
A ação apura alegado esquema de fraude e superfaturamento na compra de uma área rural de 727 hectares, localizada na região do Lago do Manso, que já pertencia ao Governo do Estado e foi adquirida novamente do médico Filinto Corrêa (réu confesso) por R$ 7 milhões em 2014.
Silval adotou a mesma postura nas ações da Operação Sodoma e também confessou seus crimes em relação às investigações da Seven. A audiência é conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
De acordo com o político, o esquema foi engendrado visando arrecadar dinheiro para o pagamento de dívidas de campanha. Ele disse ter se beneficiado com R$ 1,5 milhão, valor usado para quitar tais débitos.
Porém, Silval afirmou que os ex-secretários Arnaldo Alves (Planejamento) e Marcel de Cursi (Fazenda) não sabiam e nem se beneficiaram dos crimes.
Neste processo, o ex-governador é acusado de liderar a organização criminosa. Além dele, são réus: o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf; o ex-secretário adjunto de Administração, José de Jesus Nunes Cordeiro; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-procurador do Estado, Francisco Lima, o “Chico Lima”; o ex-secretário adjunto de Mudanças Climáticas, Wilson Pinheiro Taques; o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves de Souza Neto; o médico Filinto Corrêa da Costa; e os servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Francisval Akerley da Costa e Cláudio Takayuki Shida.
Confira a audiência em tempo real:
Ex-governador chega ao Fórum (atualizada às 13h46)
Silval Barbosa chegou ao Fórum de Cuiabá por volta das 13h30, cumprimentou os jornalistas e entrou na sala de audiências.
Início do esquema (atualizada às 14h04)
O ex-governador afirmou que iria adotar a mesma postura de confissão e que a situação ocorreu em 2014, ocasião em que conversou com o então secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, sobre como quitar as dívidas pendentes de campanha.
“Quando recebemos a decisão de fazer essa desapropriação do Filinto, o Pedro me relatou e marcamos uma reunião, eu, Pedro Nadaf e Chico Lima [procurador aposentado do Estado]. Nessa reunião conversamos de forma legal”.
“Em uma segunda reunião entre eu e o Pedro Nadaf, disse que poderia ter um retorno nessa desapropriação. E eu falei para ele tocar isso para resolver as dívidas”.
Execução da fraude (atualizada às 14h12)
O Arnaldo não tem participação nenhuma disso aí. Eu só falei para ele determinar o orçamento, mas ele não sabia para que era. O Marcel também não sabia do que se tratava e não recebeu nada
De acordo com Silval, Pedro Nadaf tratou do assunto com o ex-presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), Afonso Dalberto.
“O único problema que o Afonso questionava bastante era a questão orçamentária. A princípio, quando foi se fazer a desapropriação, a intenção minha era fazer pela Sema [Secretaria de Estado de Meio Ambiente], com recursos de compensação de grandes investimentos”.
“Mas depois o Pedro Nadaf disse que seria mais fácil fazer através do Intermat. Foi marcado uma reunião na Casa Civil onde participou eu, Nadaf, Afonso, e eu disse para ele [Afonso] ficar tranquilo, que eu ia colocar o recurso dentro da secretaria para pagar a desapropriação”.
Silval disse que também se reuniu com o então secretário de Estado de Planejamento, Arnaldo Alves, para realocar recursos da Pasta para o Intermat.
“Depois estive com o Marcel de Cursi para autorizar esse valor, e assim foi feito”.
Divisão do desvio (atualizada às 14h27)
O político afirmou que em momento algum determinou que o procurador aposentado Chico Lima ficasse com parcela do dinheiro do desvio.
“Se houve um acordo foi entre o Filinto [Corrêa] e o Chico Lima”.
Silval contou que articulou o esquema junto com Pedro Nadaf, Chico Lima e Arnaldo Alves. Ele isentou Arnaldo Alves e Marcel de Cursi das tratativas ilícitas.
“O Arnaldo não tem participação nenhuma disso aí. Eu só falei para ele determinar o orçamento, mas ele não sabia para que era. O Marcel também não sabia do que se tratava e não recebeu nada”.
Ele afirmou que dos R$ 7 milhões pagos pela área, R$ 1,5 milhão retornou para pagar as suas dívidas de campanha.
“O resto foi dividido entre Nadaf, Afonso, além da dívida que foi paga ao Alan Malouf [ em relação ao buffet do evento de posse de Silval]”.
Sem duplicidade (atualizada às 14h41)
Apesar de confessar os crimes, o ex-governador negou que a área desapropriada já pertencia ao Estado e teria sido adquirida em duplicidade.
“A informação que eu tenho é que não é a mesma área. Não é uma área que foi recomprada, eu acho que até o Ministério Público já tem conhecimento disso”.
“Para mim informaram que [os R$ 7 milhões] era o preço da região. Lógico que a gente sabia que era um pouco abaixo porque havia um retorno. Eu acredito que houve um superfaturamento, mas não fui euque determinei. Foi o Pedro Nadaf que conduziu todo esse processo e o Chico Lima entra aí porque é parente do proprietário”.
O interrogatório foi encerrado.
A operação
Na primeira denúncia da Operação Seven, o Gaeco apurou suposto esquema que teve o intuito de autorizar o Intermat a comprar uma área rural de 727 hectares na região do Manso, que já pertenceria ao Estado e foi adquirida novamente de Filinto Corrêa, com preço superfaturado de R$ 4 milhões.
O valor pago pelo terreno, segundo o Gaeco, teria sido repartido entre os membros da alegada organização criminosa.
Desta primeira ação penal são réus: o ex-governador Silval Barbosa (PMDB); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf; o ex-secretário adjunto de Administração, José de Jesus Nunes Cordeiro; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-procurador do Estado, Francisco Lima, o “Chico Lima”; o ex-secretário adjunto de Mudanças Climáticas, Wilson Pinheiro Taques; o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves de Souza Neto; o médico Filinto Corrêa da Costa; e os servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Francisval Akerley da Costa e Cláudio Takayuki Shida.
Já na 2ª denúncia da Seven, o Gaeco afirmou que os valores supostamente desviados foram maquiados para ocultar a origem ilícita.
Alguns dos cheques emitidos por Filinto Corrêa após receber o montante chegaram a ser usados, segundo o MPE, no custeio da posse do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e em parte da decoração de flores da posse do governador Pedro Taques (PSDB).
O médico Filinto Corrêa, de acordo com a denúncia, também teria tentado ocultar o montante por meio de aplicações em previdências privadas. Parte dos R$ 7 milhões também teria sido repassada aos filhos do médico (João Celestino e Filinto Júnior) e usada para a compra de uma BMW X6.
O Gaeco também rastreou a compra, por parte do procurador aposentado Chico Lima, de uma moto BMW modelo R 1200 GS branca, ano 2015/15. O veículo também teria sido adquirido com o dinheiro lucrado no esquema.
Em relação a Pedro Nadaf, o Gaeco afirmou que o ex-secretário chegou a simular a negociação de uma fazenda e a compra de um carro para ocultar a origem dos cheques emitidos pelo médico.
Teriam participado destas tratativas o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva, e os empresários Roberto Peregrino Morales Filho e Antônia Magna Batista da Rocha.
Já o ex-secretário Marcel de Cursi, segundo o Gaeco, teria utilizado a empresa de sua esposa Marnie de Almeida Cláudio (a M de A Claúdio EPP) para entregar três cheques ao ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros, para que este fizesse a troca por dinheiro.
Segundo o Gaeco, João Justino tinha o conhecimento da origem ilícita dos cheques, mas, mesmo assim, procurou o empresário André Luís Marques de Souza – do ramo de factoring – para realizar a troca, por meio do depósito dos cheques na empresa de Andre Luís.
O intuito, de acordo com a denúncia, seria movimentar os cheques de tal maneira que o dinheiro voltasse “limpo” a Cursi.
Ainda na denúncia, o Gaeco apontou que Afonso Dalberto e Luciano Amaral teriam feito operação financeira para ocultar a transferência de R$ 500 mil de Filinto Corrêa, relativa à suposta propina para que o ex-presidente do Intermat colaborasse com o alegado esquema.
Nesta segunda ação penal são réus: o médico Filinto Correa da Costa e seus dois filhos, o advogado João Celestino Correa da Costa Neto e o empresário Filinto Correa da Costa Junior; o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”; os ex-secretários de Estado Pedro Jamil Nadaf e Marcel Souza de Cursi; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros; o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva; o fazendeiro Roberto Peregrino Morales; e os empresários Luciano Cândido do Amaral, Antônia Magna Batista da Rocha e André Luiz Marques de Souza.
Fonte: http://www.midianews.com.br